Levou-me a ver os cavalos que eu tanto gostava. Pude toca-los, cheira-los, achei que tinham cabeças enormes, disse-me que um dia me ensinava a montar. Decidi acompanha-lo a cuidar o gado. Devemos experimentar coisas diferentes de vez em quando.
Íamos sempre falando de tudo, carros, deus, desporto, animais, estudos, política, etc, a andar na lama, nos sentamos num muro, continuamos a andar, atrás do gado, e lá se passou a tarde. De repente já eram as cinco, fomos com os tios dele até um café beber qualquer coisa. Eles sempre a meter-se com o rapaz, a fazer insinuações amorosas na brincadeira. Depois no topo da colina conversamos todos e rimos. Descemos na carrinha antiga deles, tinha caixa aberta e não resisti, pedi para ir atrás, afinal a última vez que o tinha feito era ainda criança, e adoro a liberdade de sentir o vento na cara, os solavancos da terra e ter que me agarrar para não sair "disparada" da carrinha. Ele veio comigo. Convidaram-me a ir ver a horta, e eu claro que embora sentindo um ligeiro toque a perigo, porque de facto estava no meio de pessoas que hoje de manhã eram estranhos, Fui.
Andando, terrenos verdejantes, mais restos de carros escondidos lá no meio da vastidão verde. Chegamos a horta, que tinha uma nascente ao pé. Ofereceram-me duas alfaces biologicas, não queria incomodar mas também não recusei por achar que seria falta de respeito. Aqueles "estranhos" me tinham tratado como se eu fosse da família. De regresso vim só com o rapaz dos cavalos, como lhe chamo. Tinha sempre a mão pronta a ajudar-me para o caso de eu escorregar de algum calhau ou para eu não ir pelo caminho mais lamacento. Enquanto falávamos ele referiu-se a nós como um casal, comparando-nos a outras pessoas que se viam até ao horizonte.

Só lhe ofereci um sorriso tímido já que não sabia o que opinar daquilo, sinto como se já o conhece-se há muito tempo.
Chegamos à rua de terra batida que eu semanas antes tinha percorrido com o meu irmão. Aguardamos ao pé da carrinha, disse que gostara muito da tarde e que me acompanhava até a minha casa, que fica a três km daí. O Carlos e o João, os tios, chegaram e traziam couves, ofereceram-me ainda mais dois limões, enormes que se notava serem naturais, pela sua forma peculiar e algumas manchas.
Perguntaram-me quando poderia voltar a passar por lá, eu disse que só tinha uma folga. E fiquei convidada a voltar na semana seguinte, embora me senti-se a 'invadir' a vida destas pessoas. Mas concordei que se pudesse voltaria.
Acabei por aceitar a boleia de um dos tios, na carrinha, despedi-me do joão e do rapaz dos cavalos, que fez questão de dizer duas vezes " depois agente fala". No caminho o Tio falou-me de respeito, amizade, tudo palavras positivas e de paz por assim dizer, embora um pouco repetitivas. Deixou-me ao pé de casa. Logo, ao pisar outra vez a calçada, senti-me a voltar a realidade, como a Alice ao sair da toca de coelho, depois da sua aventura.
Abri a porta, subi pelas escadas, cumprimentei o meu vizinho simpático e entrei em casa. Vi o telemóvel e já tinha uma mensagem dele "Quando chegares liga". Deixei a mensagem repousar e cinco minutos depois ele ligou-me.

Convidou-me para jantar num restaurante, hoje ou amanhã, disse que pagaria tudo. Recusei mas..
Liked the experience, will i do it again?
Afinal os estranhos não são tão maus assim.

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